Desigualdade regional aumenta riscos no atendimento e cuidado ao câncer infantojuvenil no Brasil

7º Fórum de Oncologia Pediátrica, que será realizado nos dias 24 e 25 de setembro, promove debates importantes sobre a área. Evento gratuito.
O acesso desigual ao tratamento do câncer infantojuvenil no Brasil ainda é um desafio crítico. Segundo o Panorama da Oncologia Pediátrica, estudo realizado pelo Instituto Desiderata, a distribuição de hospitais habilitados para atendimento especializado varia drasticamente entre as regiões do país, comprometendo o diagnóstico precoce, a qualidade do cuidado e as chances de cura de milhares de crianças e adolescentes.
Atualmente, o Brasil conta com 77 hospitais habilitados para o tratamento de câncer infantojuvenil e 66 para hematologia. No entanto, essa infraestrutura está longe de ser equitativamente distribuída. “Os dados revelam desigualdades intensas entre as regiões, o que pode determinar se uma criança terá acesso oportuno e qualificado ao tratamento ou não”, afirma Carolina Motta, gerente de Oncologia do Instituto Desiderata.
Realidade por região – Na Região Norte, onde vivem mais de 6,5 milhões de crianças e adolescentes, há apenas três hospitais habilitados em oncologia pediátrica, o que representa 0,5 serviço por milhão de habitantes infantojuvenis. A taxa de mortalidade por câncer nessa faixa etária foi alarmante: 47,5 mortes por milhão, entre 2016 e 2022.
O Nordeste apresenta uma cobertura melhor, com 16 hospitais habilitados, mas ainda distante do ideal, considerando sua população infantojuvenil de quase 17 milhões. A taxa de mortalidade foi de 44,5 por milhão, no mesmo período. A região tem cobertura de Atenção Primária à Saúde próxima de 80%, o que não tem sido suficiente para reverter os desfechos negativos.
O Centro-Oeste conta com cinco serviços habilitados, taxa de mortalidade de 43,6 por milhão e uma cobertura de Atenção Primária de 68,6%, e o Sul, tem 17 hospitais habilitados.
O Sudeste – com 36 serviços habilitados para o tratamento do câncer infantojuvenil, tem a maior concentração do país, com uma taxa de mortalidade menor: 39,4 por milhão.
O caso mais crítico é o do Acre, sem nenhum hospital habilitado em oncologia pediátrica. Lá, a taxa de mortalidade por câncer infantojuvenil chega a 54,7 por milhão, apesar de uma cobertura de Atenção Primária de 69,1%.
Hospitais habilitados por milhão de crianças e adolescentes:
- Sudeste:1,7 serviços/milhão
- Sul: 2,3 serviços/milhão
- Nordeste: 1 serviço/milhão
- Centro-Oeste: 1,1 serviço/milhão
- Norte: 0,5 serviço/milhão
“A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma proporção mínima de serviços especializados por milhão de crianças e adolescentes, e o Brasil ainda não alcançou esse parâmetro em diversas regiões”, reforça Carolina Motta, acrescentando: “se o diagnóstico for precoce, as chances de cura podem chegar a 80% das crianças e adolescentes acometidos pela doença”.
Atendimentos fora da rede especializada – Outro ponto preocupante é o volume de pacientes sendo atendidos em hospitais não habilitados em oncologia pediátrica. Entre 2017 e 2021, cerca de 20,4% dos casos em menores de 1 ano foram tratados fora da rede especializada. No Norte e Nordeste, esse número chega a 40,5%. Entre jovens de 15 a 19 anos, 36,7% foram tratados fora dos centros habilitados; no Centro-Oeste, mais da metade dos adolescentes (50,6%) passou por esse tipo de atendimento em centros não habilitados.
“Quando o tratamento ocorre fora de unidades habilitadas, aumentam os riscos de falhas no diagnóstico, atrasos nos protocolos terapêuticos e piora nos prognósticos. O sistema precisa garantir equidade e qualidade em todo o território nacional”, alerta Motta.
7º Fórum de Oncologia Pediátrica
No Setembro Dourado, mês de conscientização do câncer infantojuvenil, o Instituto Desiderata promove evento que reunirá especialistas e gestores públicos para fortalecer a rede de atenção ao câncer infantojuvenil no Brasil.
Nos dias 24 e 25 de setembro de 2025, a Organização Pan-Americana da Saúde, em Brasília, será sede de um dos mais importantes encontros nacionais sobre câncer infantojuvenil: o 7º Fórum de Oncologia Pediátrica (FOP).
Pela primeira vez realizado na capital federal, o evento reunirá gestores públicos, profissionais de saúde, pesquisadores e representantes da sociedade civil para debater soluções e estratégias que garantam equidade no cuidado e no tratamento de crianças e adolescentes com câncer em todo o país.
Com o tema central “Fortalecimento da Rede de Atenção ao Câncer Infantojuvenil nos estados brasileiros”, o Fórum busca impulsionar a construção de uma rede articulada entre estados e municípios, que assegure um cuidado mais ágil, efetivo e humanizado. A proposta é enfrentar as desigualdades sociais, étnico-raciais e regionais que ainda impactam o acesso ao diagnóstico e ao tratamento no Brasil.
“Discutir câncer infantojuvenil é discutir o direito à vida, ao cuidado digno e à justiça social. O FOP é um espaço de articulação para transformar realidades e ampliar as chances de cura de milhares de crianças e adolescentes”, reforça Carolina Motta.
O evento é gratuito e terá transmissão ao vivo. As inscrições podem ser realizadas por meio do link https://foprio.org.br/site/faca-a-sua-inscricao/
Instituto Desiderata – Organização da sociedade civil de interesse público que atua na articulação de políticas públicas voltadas para a saúde de crianças e adolescentes, com foco especial no enfrentamento do câncer infantojuvenil e na prevenção da obesidade em crianças e adolescentes.