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Por que a morte de uma figura pública nos abala tanto?

Sentimentos despertados por perdas podem reabrir feridas e impactar a saúde mental, alerta especialista

Imagem: Freepik

A comoção gerada pela morte da cantora Preta Gil, aos 50 anos, no último domingo, reacendeu uma pergunta frequente em momentos como esse: por que a perda de alguém que nunca conhecemos pessoalmente pode nos atingir de forma tão profunda?

Para o psiquiatra Matheus Souza Steglich, diretor técnico do Instituto São José, em Florianópolis/SC, a resposta está na conexão simbólica que figuras públicas criam com o público ao longo da vida. “Celebridades, artistas, líderes ou atletas ocupam espaços afetivos importantes. Eles representam fases da nossa vida, valores em que acreditamos ou até mesmo a superação de desafios pessoais. Por isso, a morte dessas figuras pode despertar um luto real, ainda que unidirecional”, explica o especialista.

Além disso, o luto coletivo intensifica a experiência emocional. A repercussão pública, os depoimentos emocionados e as homenagens nas redes sociais criam um ambiente de dor compartilhada, que pode ampliar o impacto psicológico da perda, especialmente em pessoas que já enfrentaram outras perdas significativas.

Quando o luto se torna um sinal de alerta? – O luto, por si só, é uma resposta natural e saudável diante da perda. Mas, em alguns casos, pode evoluir para um quadro patológico, que exige acompanhamento especializado.

Entre os sinais que merecem atenção estão a dificuldade em retomar a rotina mesmo meses após a perda, o isolamento social persistente, sentimentos profundos de culpa, desesperança ou inutilidade, pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, além de sintomas físicos ou psicológicos intensos, como insônia prolongada, crises de pânico ou depressão profunda.

A negação contínua da perda ou a idealização extrema da pessoa que partiu também são sinais de alerta. Esses sintomas podem indicar um quadro de luto complicado ou transtorno de luto prolongado, condições reconhecidas pela medicina e que devem ser avaliadas por um profissional de saúde mental.

Existe um tempo “certo” para viver o luto? – Segundo Steglich, o luto não tem um prazo específico. “Cada pessoa vive o luto de forma única, dependendo do tipo de vínculo com quem partiu, das circunstâncias da morte, da rede de apoio e da história emocional de cada um”, afirma.

Em geral, espera-se que a dor mais intensa diminua nos primeiros 6 a 12 meses após a perda. No entanto, isso não significa que a saudade desapareça. Um luto saudável é aquele que permite a reintegração da perda à vida, mantendo vínculos simbólicos sem comprometer a funcionalidade e o bem-estar da pessoa.

Como oferecer apoio a alguém enlutado? – Mais do que palavras de conforto, a presença empática e o acolhimento sem julgamentos fazem a diferença no processo de luto. Escutar com atenção, sem tentar apressar a superação, oferecer ajuda prática no dia a dia e validar os sentimentos, mesmo os mais extremos, são atitudes essenciais.

Também é importante manter-se presente não apenas nos primeiros dias, mas ao longo do tempo, já que o apoio costuma diminuir com o passar das semanas, embora a dor ainda permaneça. Quando necessário, sugerir com delicadeza a busca por ajuda profissional pode ser fundamental para evitar o agravamento do sofrimento.

Conforme ressalta Steglich, “não existe uma forma certa de viver o luto. O mais importante é reconhecer a dor, permitir-se senti-la e ter ao lado pessoas que ofereçam escuta, afeto e paciência. Em muitos casos, isso pode ser determinante para que o sofrimento não se transforme em adoecimento emocional”.

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