Primeira cirurgia fetal no mundo com fetoscopia para correção de encefalocele é realizada em Campinas
Equipe de cirurgia fetal – Crédito: arquivo pessoal
O Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), sediou a primeira cirurgia mundial de fetoscopia para a correção de uma Encefalocele (protrusão do tecido cerebral e das meninges por uma abertura nos ossos do crânio). O Hospital é referência para cirurgia fetal no país. Realizado por uma equipe de seis renomados especialistas da instituição hospitalar e da Fundação Medicina Fetal Latinoamericana (FMFLA), com a participação do Texas Children´s Hospital, o procedimento feito sem a necessidade de abrir o útero materno, foi realizado nesta semana e levou em torno de três horas. A mãe, na 24ª semana de gestação, e o feto recuperam-se muito bem, deixando a equipe de cirurgia fetal bastante otimista.
Para o Vera Cruz Hospital, contribuir com o avanço da medicina em nível mundial é uma de suas missões. “A medicina caminha a passos largos rumo ao futuro e o Vera Cruz é um hospital que valoriza esses avanços, especialmente pelos benefícios que traz para as pessoas. Saber que realizamos aqui a primeira cirurgia mundial que tem potencial de mudar o futuro e promover a qualidade de vida para crianças com Encefalocele, nos orgulha e reforça o nosso compromisso com a sociedade mundial”, destaca Gabriel Redondano, diretor técnico médico do Vera Cruz Hospital.
“Já tínhamos expertise na realização deste tipo de cirurgia para a correção da coluninha do bebê, chamada cirurgia fetal espinha bífida. Então, mobilizamo-nos para realizar o procedimento e corrigir a Encefalocele com a mesma técnica, e foi um sucesso. Já fazíamos o procedimento, utilizando outro método, mas que exigia a abertura do útero da mãe. Neste caso, não; o que permite uma recuperação muito mais rápida”, detalha Renato Ximenes, médico coordenador da equipe de Medicina Fetal do Vera Cruz e coordenador da equipe de cirurgia fetal da Fundação Medicina Fetal Latinoamericana (FMFLA).
A gravidade da encefalocele depende do tamanho da abertura da parte óssea do crânio e da quantidade de tecido cerebral exposto. “Com a cirurgia, a equipe médica corrige a exposição do tecido cerebral que está fora do crânio e o fecha. Isso permite que o feto continue seu desenvolvimento”, explica o médico. “O principal objetivo é que ao nascer, o bebê não apresente microcefalia e que, após nascimento, não venha a apresentar episódios de convulsão e possa ter um desenvolvimento infantil próximo ao normal”, completa.
Segundo Ximenes, a operação envolve dois pacientes ao mesmo tempo. Por isso, além de se pensar na correção do problema, é fundamental que todos os riscos sejam reduzidos ao máximo também para a mãe. “Com a fetoscopia, a recuperação da mãe é muito mais rápida, os riscos de complicações são bem menores, o pós-cirúrgico é menos dolorido, o tempo de internação é menor, o risco de ruptura uterina diminui e a paciente pode ter um parto normal”.
Embora essa tenha sido a primeira cirurgia do gênero realizada no mundo, o especialista ressalta que não é recomendada para qualquer caso. “Existem alguns critérios que precisam ser seguidos, tais como o tipo de lesão, características clínicas da mãe, idade gestacional, além de uma consulta de medicina fetal com médico especialista para avaliar e fazer um estudo genético do bebezinho, por meio de ultrassom e ressonância magnética, dentre outros fatores”, explica.
Próximos passos – A gestante segue em acompanhamento e deve ter alta nos próximos dias. A partir daí, ela passa a ser acompanhada semanalmente até o parto.
Conforme explica o Dr. Ximenes, “dos bebês operados pelo método anterior, no qual havia a necessidade de abertura do útero, nenhum apresentou convulsões e todos tiveram o crescimento encefálico normal. Esperamos obter os mesmos resultados positivos a partir desse método pioneiro e inovador que estamos apresentando ao mundo, permitindo que essas crianças tenham um desenvolvimento muito próximo ao considerado normal”.
Monitoramento a distância – A partir da alta médica, a paciente será monitorada por meio de uma revolucionária tecnologia de ultrassom domiciliar, desenvolvida pela empresa israelense Pulsenmore, no Brasil representada pela Univen Healthcare. Por meio da tecnologia, o monitoramento da paciente e do bebê será feito com informações transmitidas por aplicativo instalado em seu smarphone, em tempo real, para a equipe médica que fará o acompanhamento.
Além do ultrassom, que fornece imagens e vídeos, será possível medir a frequência cardíaca fetal, medida do maior bolsão vertical e movimento e apresentação fetal, fornecendo informações para o acompanhamento do desenvolvimento em exames futuros.
Caso haja alguma anormalidade, observada durante o exame, o médico pode optar por repetir o exame ou direcionar a paciente para o serviço de emergência mais próximo, com a vantagem de poder diagnosticar precocemente um potencial problema e preparar com antecedência o hospital para receber esta paciente e prestar um atendimento mais eficiente e rápido na expectativa de salvar a vida do bebê e garantir a saúde da mãe.
Participação especial – O Texas Children´s Hospital teve uma participação muito especial em toda a cirurgia com a presença do Prof. Michael Belfort. Ele – com sua técnica desenvolvida na instituição americana em que trabalha, mesclou sua competência com as técnicas brasileiras para se obter os melhores resultados.
Segundo o vice-presidente e relações públicas da instituição, Kelley Carville, este foi um marco incrível para a medicina mundial e, tanto ele quanto sua equipe, ficaram felizes e emocionados em contribuir para que essa conquista se tornasse possível.
Equipe – A Cirurgia Fetal Fetoscópica para correção de Encefalocele Occipital contou com um time de especialistas bastante conceituado, incluindo a Equipe de Cirurgia Fetal Clinica FMFLA (Fundação Medicina Fetal Latinoamericana). Além do Dr. Renato Ximenes, que também coordena a FMFLA, participaram os médicos Michael Belfort, Professor e Diretor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Baylor College of Medicine e Diretor Chefe do setor de Ginecologia e Obstetrícia do Children’s Hospital, ambas instituições em Houston, Texas; Márcio Miranda, da equipe de cirurgia da FMFLA e coordenador do Serviço de Cirurgia Pediátrica do Grupo em Defesa da Criança com Câncer (GRENDACC); Mauro Villa Real, da equipe de cirurgia da FMFLA; Sérgio Cavalheiro, professor titular em neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina e membro da equipe de cirurgia da FMFLA; e Carlos Baldo, da equipe de cirurgia da FMFLA.