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SBCO aponta as cirurgias e outros tratamentos efetivos para pacientes com câncer de colo do útero

Novos recursos para diminuir tumores antes da cirurgia, desenvolvimento de técnicas operatórias inovadoras e tratamento sistêmico medicamentoso ampliam as chances de cura, preservação de fertilidade e melhor qualidade de vida das pacientes com tumores colo uterinos

Imagem Dephositos-SBCO

O câncer de colo do útero é o terceiro tipo de tumor mais comum em mulheres no Brasil e a quarta causa de morte por câncer. As opções de tratamento incluem cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia alvo e imunoterapia, sendo a escolha individualizada para cada paciente. Conforme informa o cirurgião oncológico Reitan Ribeiro, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), “nos últimos anos, houve avanços significativos no tratamento do câncer de colo do útero em diversas áreas. Há desde inovações em técnicas cirúrgicas para enfrentar a doença a estudos que auxiliam a tomar melhores decisões, além de novas classes de medicamentos, como a imunoterapia e as terapias-alvo. Tudo isso produz impacto na melhora dos resultados e da qualidade de vida das pacientes”.

De acordo com o médico, que também foi presidente da regional da SBCO do Paraná, a escolha do tratamento deve ser feita em conjunto com a paciente, informada sobre as possibilidades. “A decisão por uma estratégia terapêutica deve levar em conta o estadiamento da doença, sua localização, tipo de tumor (espinocelular, adenocarcinoma, ou outros raros), idade, o estado geral de saúde da paciente e se há ou não o desejo de preservar a fertilidade”.

Nas situações em que a mulher tem um tumor em fase muito inicial e deseja conservar a fertilidade, a extensão da cirurgia dependerá dos resultados de exames de imagem prévios e de uma biópsia (com amostras de tecido retiradas em cone) para verificar a presença de células cancerígenas nas bordas do tumor. Se as margens estiverem negativas, ou seja, livres de células tumorais, o cirurgião pode optar pela remoção do colo do útero, com preservação do órgão, seguida de acompanhamento clínico. Também para casos iniciais, mas pouco maiores ainda, é possível preservar a fertilidade com a ressecção completa do colo do útero (traquelectomia radical) e com avaliação dos linfonodos pélvicos. A cirurgia é recomendada quando a paciente teria indicação de histerectomia, mas por ser um tumor ainda pequeno, pode-se retirar o colo sem retirar o útero

Um dos avanços mais recentes para resguardar a fertilidade, destaca o médico, é a Transposição uterina. A cirurgia ainda é experimental em pacientes com câncer de colo, sendo é recomendada quando a paciente já realizou a traquelectomia radical, mas ainda assim tem indicação de radioterapia pós-cirúrgica.

O método consiste em uma transferência dos órgãos reprodutivos temporariamente para a região superior do abdômen, acima da cicatriz umbilical, de modo a manter os órgãos com suprimento sanguíneo por meio de vasos sanguíneos da região. Após as sessões de radiação, outro procedimento devolve os órgãos ao local de origem. “Nos últimos cinco anos, essa cirurgia ganhou muita força no Brasil e já é usada em muitos países”, pontua Reitan, que desenvolveu a técnica inovadora.

Ainda no campo da cirurgia, há cerca de cinco anos a realização de cirurgias minimamente invasivas para tratar o câncer cervical, por meio de técnicas como a laparoscopia e as intervenções robóticas, tornou-se o centro de um debate importante.  “Do início dos anos 2000 até 2018, a cirurgia laparoscópica e a robótica ganharam muita força. Mas a publicação de um estudo multicêntrico, que teve inclusive a participação do Brasil, mostrou que pacientes que fizeram cirurgias minimamente invasivas tinham quatro vezes mais recidivas e apresentavam mortalidade quatro vezes maior do que as pacientes submetidas a cirurgia aberta”, relata Reitan, um dos pesquisadores envolvidos no trabalho. Atualmente, novos estudos estão em curso para identificar e avaliar as modificações a serem feitas na aplicação de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas.

O conjunto de recursos para enfrentar o câncer de colo uterino inclui também as terapias neoadjuvantes (feitas para diminuir os tumores antes da cirurgia), que incluem quimioterapia associada ou não à radioterapia, e também medicamentos mais recentes.

“A neoadjuvância é feita, usualmente, só com quimioterapia, explica o médico. Segundo ele, a radioterapia foi muito usada na década de 1990 em associação com a quimio, mas caiu em desuso para câncer de colo do útero pelo fato de que muitos estudos falharam em demonstrar que ela aumenta os benefícios nessa etapa”.

Entre os novos fármacos incorporados em neoadjuvância ou após a cirurgia estão moléculas que reconhecem e atacam as células tumorais, preservando as células saudáveis. São as chamadas terapias alvo. Um exemplo é o uso de inibidores da enzima tirosina quinase, como o lapatinibe e o gefitinibe. Essas substâncias bloqueiam a ação de uma proteína chamada EGFR, responsável por estimular o crescimento das células tumorais. Outro recurso são as drogas antiangiogênica, que têm como objetivo impedir a formação de novos vasos sanguíneos no tumor, privando-o do fornecimento de nutrientes e oxigênio. 

A imunoterapia é mais uma aliada. Ela se baseia na administração de substâncias que estimulam as células do sistema imune a reconhecer e atacar as células tumorais. A estratégia tem mostrado resultados promissores em pacientes com doenças avançadas sistêmicas, embora não seja adequada para todos. Entre os medicamentos imunoterápicos para o tratamento do câncer de colo do útero, destacam-se os inibidores de checkpoint imunológico, como o pembrolizumabe e o nivolumabe. São medicamentos que impedem as células tumorais de enganar o sistema imunológico, permitindo que as células de defesa identifiquem e ataquem as células mutadas do câncer.

Outra substância utilizada na imunoterapia é a vacina terapêutica, fármaco que utiliza fragmentos de células tumorais da paciente para estimular o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células cancerosas. Apesar de experimental na maioria dos casos, sua indicação tem sido mais em pacientes com doença avançada ou metastática e é precedida por testes para avaliar o tipo histológico e a presença de algumas proteínas ou mutações genéticas que podem indicar maior ou menor resposta à imunoterapia.

A maioria das novas terapias medicamentosas está inserida no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Porém, o acesso a elas dependerá do pacote de serviços oferecido pelo plano contratado. No SUS, os pacientes também têm acesso a muitos desses tratamentos, incluindo a traquelectomia radical e a histerectomia radical aberta, mas as técnicas minimamente invasivas ainda não foram incorporadas.

Conforme explica o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, Dr. Reitan Ribeiro, “o SUS está atrasado em relação às cirurgias minimamente invasivas, necessárias nos casos em que são bem indicadas. As terapias-alvo e a imunoterapia também demoram mais a chegar”. Como alerta, ele conclui: “é preciso ampliar e facilitar o acesso tanto na rede suplementar como na rede pública aos novos tratamentos para melhorar as condições de tratamento desses tumores e a qualidade de vida das mulheres.

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