Superação: alguns homens são inspiração. Tadeu Mitraud é um deles. Conheça um pouco de sua história.
Tadeu Mitraud: ”nunca tive aquele momento de ficar questionando a Deus porque eu era assim. Eu aceitei e tive uma criação que me encorajou a enfrentar isso tudo, de peito aberto”.
Entrevista ao jornalista Lúcio Teixeira Carvalho/Portal Medicina e Saúde
Diante das diversidades, superação talvez seja a palavra que mais impulsiona as pessoas a ultrapassaram suas dores e seguirem em frente. Um exemplo é o jogador da Seleção Brasileira de Futebol de Amputados, Tadeu Mitraud. Ele nasceu com um problema congênito que o levou, posteriormente a amputar o joelho. Hoje, aos 31 anos, ele é um dos grandes nomes do futebol de amputados do Brasil e presidente da AMDA – Associação Mineira de Desportos para Amputados.
Nesta entrevista ao Portal Medicina e Saúde, ele conta um pouco de sua vida, das dificuldades que teve que vencer, preconceitos e sucessos.
Inicialmente, qual é o problema congênito que você teve?
Displasia óssea. Deficiência focal proximal do fêmur, tipo D. Além disso, tenho outras deformidades associadas a esta doença: encurtamento do membro inferior direito, agenesia de ligamento cruzado anterior, encurtamento da tíbia, ausência da fíbula e contratura em equino do tornozelo direito.
Como percebeu que havia alguma coisa diferente com você?
Para mim foi muito natural. Como eu já nasci com esta deficiência, eu cresci com ela. Quando pequeno, eu via muitas coisas acontecerem, por exemplo, quando ia ao hospital fazer o tratamento na minha perna. Na medida em que fui chegando aos 4/5 anos de idade, meus pais começaram a me explicar o que tinha acontecido comigo por que eu tinha que ir para o colégio. Então, eles me falaram que tinha um probleminha na perna, mas que isso não era nada. Eu ia ter uma vida normal, fazer tudo que quisesse, que nada ia me impedir, e que eu não poderia abaixar a cabeça para ninguém por causa da minha deficiência, e que eu também não iria ser tratado diferente por causa dela, nem para o bem, nem para o mal. Eu ia ser tratado igual por que eu era uma pessoa igual a qualquer outra e que eles exigiam que eu tivesse essa consciência. Então, na verdade, não teve esse momento, essa consciência de perceber uma coisa diferente. Foi com naturalidade que as coisas foram acontecendo. Depois, mais tarde, meus pais me explicaram que eu era diferente, mas que eu era normal.
Você se lembra dos sentimentos que teve?
Bem, como contei acima, meus pais me explicaram que eu tinha um probleminha na perna, mas que isso não era nada. Eu poderia fazer tudo que quisesse. Assim, eu via tudo de forma normal. Quando fui jogar bola e fazer algumas brincadeiras, eu tinha algumas dificuldades, mas isso não me impedia de fazê-las. Eu fazia do meu jeito e meus colegas me apoiavam. Raramente alguém falava que eu não conseguia fazer por que não tinha pernas. Eu realmente nunca linguei para isso.
Como você enfrentou todo esse processo, principalmente por que você era uma criança?
Eu sempre enfrentei essas situações como meus pais me diziam: não aceite isso. Então, eu não aceitava. Eu ia lá e fazia as coisas do meu jeito, bem ou mal. Eu não me deixava abater por qualquer crítica que pudesse acontecer. Então, foi assim, eu era normal e quem falasse que não era, a pessoa estava errada. Eu falava, eu tenho deficiência da perna e você tem problema na cabeça (risos).
Havia, então, preconceito das crianças?
Sim, havia, principalmente quando eu ia ficando mais velho, na idade de paquerar, de conhecer menina, e até antes, na pré-adolescência, idade que é muito difícil, eu não era escolhido para jogar no time de futebol. Aí, quando estava jogando no time de uma pessoa e ela ficava chateada, falava que eu era ruim, eu respondia. Falava que o problema era dela e que iria jogar mesmo assim. Eu encarava tudo da mesma forma. Nunca tive aquele momento de ficar questionando a Deus porque eu era assim. Eu aceitei e tive uma criação que me encorajou a enfrentar isso tudo, de peito aberto.
Há uma tendência dos adultos terem uma certa condescendência, ou não saberem lidar com pessoas com necessidades especiais. Você vivenciou e ainda vivencia tais situações? Como lidava ou lida com elas?
Quando a gente é novo isso é mais perceptível por se tratar de ser criança, mas, no geral, não há um padrão porque a deficiência é muito particular. Cada um tem a sua própria forma de agir e reagir. E por mais que sejam parecidas, elas vão ser tratadas também de maneira distinta. Mas ainda hoje existem pessoas que querem saber se eu dou conta de fazer isso ou aquilo. Elas se preocupam em pegar algo para mim. Aí eu digo – não precisa, pode deixar que eu mesmo pego. Ou então, me perguntam: você vai conseguir, por exemplo, subir essa escada?
E como você encara isso?
Eu não encaro isso como uma coisa negativa, pelo contrário. É uma preocupação positiva. Eu posso não precisar, mas outra pessoa pode. Então, a atitude dessa pessoa pode ser necessária para determinada situação. Sei que as pessoas ficam preocupadas. Eu lidei muito com isso quando era mais novo. Elas queriam fazer as coisas para mim, me colocar no colo. Mas eu também tive a fase do bullying. Hoje, é uma coisa mais natural por que já estou mais velho, estou com 31 anos de idade. Então ajo com mais naturalidade a tais situações e as pessoas também deixam eu fazer as coisas por que estou mais velho. Elas pensam: ele agora pode lidar bem com essa situação. Mas mesmo assim, as vezes isso acontece no meu ambiente de trabalho, nas minhas relações sociais. As pessoas ficam ainda sem saber se vou dar conta, elas se preocupam. Eu faço muita trilha. Outro dia, por exemplo, eu estava fazendo uma. Estávamos eu, minha esposa e uns amigos subindo um caminho que tinha umas mulheres de meia idade fazendo o mesmo percurso. Quando uma delas me viu, me perguntou – nossa, mas você vai assim? Eu fiquei tranquilo e disse – vou sim, vou tentar. Mas meus amigos não gostaram, ficaram bravos e disseram para mim que eu deveria ter respondido. Em situações assim, eles ficam muito bravos, mas naquele caso, acho que ela não soube se expressar direito, foi uma preocupação dela, entende?
Você acredita que dor, sofrimento e superação nos fazem mais fortes?
Ah, sem dúvida. O ato de superar já é um movimento decorrente da dor, de algo que você precisa superar, né? Não tem jeito. Existe muita mania de dar tamanho para o sofrimento, para a dor, e não tem isso. O tamanho da dor é de cada um. Como já falei antes, cada um tem a sua deficiência. Para uma modelo, por exemplo, que foi mordida por um cachorro e ganhou uma cicatriz na perna, o esforço para superar aquele trauma pode ser muito maior do que o de uma pessoa que perdeu um braço ou uma perna. A dor é muito particular. A dor, a tristeza e a superação são próprias de cada um, mas, sem dúvida, elas edificam a pessoa. Isso se ela souber aprender com aquela situação. É na dor onde a gente aprende mais. É quando a gente vive o sofrimento, ou quando a gente passa por ele e percebe que aquilo não acabou com a nossa vida. Aí a gente começa a ter uma ótica diferente das coisas, do que de fato é um problema. Assim, diante da perda um parente, o defeito de sua televisão e você não ter um tênis apropriado para jogar futebol estão longe de ser motivo de tristeza. Nesse sentido, sem dúvida, passar por um sofrimento, passar por uma dor e conseguir superá-los, com certeza vai te trazer maturidade e autoconhecimento.
Em algum momento você se perguntou “por que eu”?
Engraçado, esta é uma pergunta que não me lembro de tê-la feito quando mais novo, mas é uma pergunta que tenho feito recentemente e acho que vou fazê-la para o resto da vida. Por que é uma pergunta que até hoje não tenho a resposta – por que eu? Acho que ninguém vai saber me responder porque eu fui ser assim. Eu me aceito assim, mas fico curioso para saber como seria a minha vida se não tivesse essa deficiência. Será que seria mais feliz, será que seria menos feliz? Como seria a minha vida hoje? Acho que mais feliz, não, mas, sem dúvida é uma pergunta que eu vou fazer pelo resto da minha vida, mas não por tristeza, por curiosidade. Por quê Deus me escolheu ser assim?
Como superou a “doença” e, posteriormente, a amputação?
Eu não tive esse momento de superar. Como eu fui crescendo e aprendendo que eu era diferente, eu não precisei me superar. Imagino que alguém que tem uma perna perdida, tenha que superar, mas, no meu caso, eu sempre me vi como uma pessoa normal pois nasci assim. O problema era ter que lidar com situações que as outras pessoas faziam de uma forma e eu de outra, e, teoricamente, eu fazia de uma maneira pior. Eu tinha que dar um jeito de correr, eu corria, mas corria menos. Eu tinha que dar um jeito de jogar bola, eu jogava, mas jogava menos. Ah, eu conseguia pular e andar nos brinquedos, mas andava menos, mais devagar. Então, para mim não havia problema, mas quando eu operei para colocar a minha prótese, foi muito ruim por que eu estava em plena adolescência – tinha uns 15 anos de idade. Eu tinha que ficar de aparelho no colégio e não podia fazer as atividades que queria fazer. Então, isso foi pior. Mas depois, colocando a perna e me acostumando com ela, lá pelos meus 17 anos, a minha vida melhorou muito. Eu passei a ter as minhas mãos livres, sem precisar segurar a muleta, podia andar tomando sorvete, andar de mãos dadas com uma namorada. Pequenos detalhes fazem muita diferença.
Quais são os seus limites?
Essa pergunta é muito difícil responder, sabe? Eu tenho limitação física, mas, para mim, isso não é problema. Então, a partir do momento que não é problema, ela deixa de ser uma limitação. O limite é uma barreira criada pela nossa mente, e, no momento em que sei tratar essa limitação, ela não existe mais. Eu corro e jogo bola do meu jeito, mas para outra pessoa eu sou limitado para jogar. Para mim, não. Eu convivo com aquilo, eu rio daquilo ali. E se você for parar para ver, qualquer pessoa é assim. Por exemplo, o Atlético tem ótimos jogadores, mas comparado ao Cristiano Ronaldo esses jogadores têm limitações. Então, qual é a ótica que você enxerga uma limitação? A minha é evidente, é tangível. A limitação física é assim, visível. Mas a limitação que tenho é igual a de qualquer ser humano normal. A limitação de entender o próximo, de ter o amor como principal norte de nossas vidas, que guia as nossas ações, de entender nossos limites psicológicos, aonde você pode chegar, de saber encarar um problema com a seriedade que deve ser tratado, ou não colocar o problema maior do que ele é, conduzir uma relação com o próximo, saber não julgar uma pessoa ou apontar o dedo para o outro … a minha limitação é igual a qualquer limitação que o outro tem. Essa é a minha limitação. Sou, assim, um constante aprendiz de viver a vida, mas não pela minha deficiência, pelo contrário, ela me deixa muito ativo, mentalmente. Ela me coloca em condições, às vezes, “melhores” do que outras pessoas. Com o que importa, a minha deficiência me trouxe, sem dúvida, um aprendizado e uma sabedoria a mais que eu não poderia ter se não tivesse a deficiência que tenho.
O esporte foi uma dessas ferramentas de superação?
Ele foi uma chancela, um carimbo de Deus: estou te provando que você não tem limitação alguma. Então, eu praticava esporte com meus amigos, sofri um pouquinho de bullying, sim, mas quando descobri o futebol de amputados, fui para a Seleção Brasileira, disputei o Mundial, fui campeão pela Seleção Brasileira e tive o reconhecimento que estou tendo agora, na oportunidade de conceder essa entrevista. Então, posso dizer que ele não foi uma ferramenta apenas de superação. O esporte foi um carimbo, um certificado de “está vendo, você superou e hoje pode dizer para si mesmo: eu conquistei, eu posso ser reconhecido tanto quanto ele ou aquele”. Assim, eu tenho o futebol com um certificado: eu sou tão bom quanto você, ou veja aonde eu cheguei com toda a limitação que tive.
Hoje, você é um dos grandes nomes do futebol de amputados do Brasil, tendo participado já de vários campeonatos nacionais e internacionais. Como foi essa trajetória?
Eu comecei a jogar futebol no colégio, bem novo, pulando com uma perna só no gol. Eu achava os meninos muito ruins (risos). Depois fui para a linha, também pulando em uma perna só. Aí, joguei no último dia de educação física – eu tinha uns cinco anos -, e, pulando em uma perna, ainda consegui fazer um gol. Logo depois, eu peguei uma muleta axilar e comecei a jogar na linha com ela. Joguei na linha até os meus 15/16 anos, quando uma pessoa me encontrou na rua e falou que teria que conhecer o futebol de amputados e que ele iria me levar lá. Aí, passou mais um ano e eu descobri uma modalidade de futebol que todo mundo jogava igual a mim. Os atletas de linha não tinham uma perna e o goleiro não tinha um braço, sendo obrigatório jogar com duas muletas. Tem todo um padrão. Aí, quando comecei a jogar com eles, e como eu já jogava com meninos “normais”, eu deitei e rolei. Eu joguei muito bem. Eu era novo, corria muito, e da minha primeira copa do Brasil e do campeonato brasileiro, eu já fui para o 1º Mundial na Turquia, depois para a Copa América, alguns torneios internacionais. Depois dei um tempo. Parei em 2013 e fiquei até 2015 sem jogar por que estava na faculdade. Depois dessa data voltei para o futebol e, em 2018, estabeleci uma meta para integrar a Seleção Brasileira. Então, comecei a treinar e, em 2019, fui convocado para um torneio em 2020, mas aí, veio a pandemia e não teve evento. Agora, fui convocado novamente para as eliminatórias da Sul-américa. Na verdade, é o Torneio Sul-Americano, mas serve de eliminatória da copa, da qual a gente foi campeão e o Brasil foi classificado para ir para a Copa do Mundo em outubro, na Turquia. Posso dizer, assim, que meu início foi na Associação Mineira de Desportos para Amputados, que se chama AMDA, única associação que desenvolve essa modalidade em Minas Gerais, a qual tenho orgulho de ser seu presidente. O primeiro presidente dela está em outro clube, não está participando mais da associação. Como não tinha um presidente, eu assumi o cargo depois de já ter passado pela faculdade, já que não é fácil achar alguém que tenha certa orientação e disponibilidade para assumir a liderança de uma associação como esta.
Você acaba de chegar de um campeonato mundial. Onde foi e como a nossa seleção brasileira se saiu?
Foi na Colômbia. Na verdade, foi o Torneio Sul-americano de Futebol de Amputados, que é eliminatório para a Copa do Mundo. As quatro primeiras seleções se classificaram para o Mundial e o Brasil foi campeão na última rodada, ganhando do Chile de 4 X O – até consegui fazer um gol nesse jogo. O Brasil ficou em primeiro, em segundo Uruguai, terceiro Argentina e quarto a Colômbia. Esses quatro vão representar a América do Sul no Mundial da Turquia, em outubro, que vai contar com 24 seleções do mundo inteiro.
Alguém nos disse que você está pensando em se aposentar do futebol. É verdade?
Sim, eu estou pensando em me aposentar do futebol de alto rendimento, a seleção Brasileira, inicialmente, por que já tenho 31 anos e por que essa modalidade tem se desenvolvido bastante. Hoje o nível está muito maior, exigindo muito comprometimento, e eu tenho outras atribuições fora do futebol. Sou presidente da Associação e tenho meu trabalho, que exige demais. Então, para eu performar no nível em que uma seleção exige, eu precisaria ter uma dedicação que competiria com outras coisas que gostaria ter em minha vida, por exemplo, ter filho e viajar. Então, estou fazendo a minha última dança, a minha despedida que, se Deus quiser, será, agora, no Mundial da Turquia.
Caso isso aconteça, o que pensa fazer? Vai se dedicar apenas ao seu trabalho formal?
Na verdade, eu não vou largar o futebol, eu vou continuar jogando, mas não no nível de uma seleção brasileira. Talvez eu represente o nosso Estado na Copa do Brasil e no campeonato Brasileiro. Se eu for convocado futuramente, eu não vou recusar, mas já não vai ser mais o meu foco e vou deixar isso muito claro, inclusive para dar oportunidade para outras pessoas mais novas, que estão chegando agora. Vou continuar trabalhando. Sou formado em Administração de Empresas, tenho pós-graduação em Análises e Inteligência de Dados, fui auditor externo da Price e, hoje, estou na VLI, fazendo Gestão Estratégica e Administrativa da diretoria, que compõe cinco áreas. Agora quero focar na minha carreira, crescer profissionalmente. Penso também abrir um negócio próprio, futuramente. Ainda não sei bem o que, mas, talvez, algo no ramo alimentício.
E a Associação Mineira de Amputados …?
Na AMDA, eu continuo como presidente. Tenho mais dois anos de mandato, mas penso em passar o cago para alguém, com mais disponibilidade. O trabalho é voluntário e preciso focar em minha carreira profissional. Meus horários de trabalho e a AMDA estão começando a se colidirem. Outro dia, por exemplo, fui convidado para um evento e não pude ir por que estava trabalhando. Aí, tive que pedir para outra pessoa ir no meu lugar, mas ela não estava capacitada para aproveitar a oportunidade daquele momento, para fazer contato e divulgar a associação. Então, eu gostaria que outra pessoa assumisse após meu mandato, mas vamos ver o que acontece por que hoje não teria essa pessoa para me substituir. Mas eu sempre vou continuar na associação, só não serei mais presidente. O papel do presidente é muito importante. Outras vidas dependem do seu desempenho. Assim, tem que ser uma pessoa que possa estar disponível para atender todo mundo.
Como é o seu trabalho nesta associação?
Faço praticamente tudo. Procuro desde uma quadra para jogar futebol, como vou atrás também de atletas. Quando vejo um amputado no centro da cidade, eu paro o carro e vou falar com ele, por que o principal produto a AMDA é tirar essas pessoas de situações de vida complicada, da marginalidade, do vício das drogas, do álcool, acometidas pela deficiência e trazê-las para a associação. Então, depois que ela está jogando e vê que pode fazer tudo normal, que pode estar incluída na sociedade e seguir seu caminho pessoal e profissional, isto é muito legal. Então, eu fico nessa captura de atleta, na mobilização de pessoas para ajudar a nossa associação, seja ela fornecendo quadra, um apoio ou um patrocínio. Outro dia consegui ingressos para levar os atletas no Mineirão para ver o jogo da Seleção Brasileira. Muitos nunca tinham ido no Mineirão. Tem também a parte contábil da associação, conseguir contadora, escrever projetos para auxílio governamental, tem a rede social, que temos que divulgar a associação, … enfim, é um trabalho para 50 mãos e, infelizmente, não temos apoio de ninguém, não temos como remunerar ninguém, é trabalho voluntário. Assim, ficam duas ou três pessoas fazendo o máximo que podem, o quanto dá. Mas é com muito orgulho por que o pouco que fazemos já dá resultados, como o caso daquele menino, o Gabriel Feijão, que perdeu a perna com a linha chilena. Ele ficou muito famoso na época. Foi em Betim, meu pai e o tesoureiro da AMDA conseguiram ir ao hospital e conversar com ele. O sonho dele era ser jogador de futebol e achava que não seria mais possível. Hoje ele um jogador de futebol de amputados e já foi até convocado para a Seleção Brasileira. Está lá, jogando com a gente, na associação, todo final de semana.
Para encerrar, você é um homem de fé?
Sim, eu sou uma pessoa de muita fé. Sei que nada do que aconteceu é à toa. Sei que hoje sou uma ferramenta de fé, que motiva os outros a buscarem essa conexão também. Não tenho dúvidas disso! A gente não está aqui à toa. Temos que olhar para o céu e sentir que existe um propósito para todos nós. Quando a gente vence uma batalha, quando a gente conversa com o nosso íntimo e falamos com Deus, ele aparece, não tem jeito. Essa crença foi uma das coisas que me deu suporte a não ter depressão, a encarar a vida com normalidade, por que sabia que havia um propósito para mim. E quando você começa a ver que é retribuído, que a felicidade está nas pequenas coisas, você começa a entender a fé, começa a enxergar as coisas com uma ótica totalmente diferente. E quando você enxerga assim e encontra a sua felicidade, você descobre que o amor e a fé caminham lado a lado, de mãos dadas. Por isso, a gente é um eterno aprendiz. Eu dou graças a Deus pela minha deficiência, por que foi a ferramenta que Ele usou para me permitir ser uma pessoa melhor do que seria hoje, imagino.
Serviço:
AMDA – Associação Mineira de Desportos para Amputados
Entidade sem fins lucrativos, de apoio a pessoas amputadas, fundada em 10 de junho de 2015.
Presidente: Tadeu Mitraud| Contato: (31) 9.7180-0630
Local dos treinos: Arena Pitangui – Rua Itabira, 880, Bairro Lagoinha, Belo Horizonte / MG
Horário: 11h30m (aos sábados)