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Adversidades que transformam vidas: uma experiência de quem teve câncer de mama, sobreviveu e criou uma ong de apoio

Maria Luiza Oliveira:  “sou uma pessoa mais paciente e atenta à escuta do outro. Acredito que o tempo dedicado a quem amamos é único e precioso”

Há pessoas que em razão das adversidades, encontram um novo caminho em prol do ser humano. Uma doença grave, por exemplo, pode ser o motivo necessário para se criar uma ong ou um movimento de apoio àqueles que vivem a mesma situação pela qual a pessoa acabou de superar; e a experiência adquirida pode ser transmitida e ajudar muita gente. Este é o caso de Maria Luiza Oliveira, conforme relata nesta entrevista concedida ao Portal Medicina e Saúde.

Ela é presidente da associação “Pérolas de Minas”, que acolhe mulheres em tratamento do câncer de mama, palestrante, administradora, especialista em Marketing, Gestão de Pessoas e em Gestão Hospitalar.

Quando a senhora teve um câncer de mama?

– Recebi o diagnóstico do câncer de mama com 27 anos de Idade. Quando recebi a notícia pensei comigo: será que vou morrer? Não chorei na frente do médico. Cheguei em casa e chorei muito. Não contei para ninguém. Fiquei 10 dias sem contar a ninguém. Primeiro queria contar para a minha família, que me recebeu com muito carinho e palavras de incentivo: “você não está sozinha, nós estamos com você. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance.”

A partir daí, qual foi o caminho que teve que percorrer?

– Fazer o tratamento proposto pela equipe médica, confiar neles e ter fé para que tudo desse certo. Assim, iniciei a quimioterapia, radioterapia e cirurgia – a quadrantectomia. Todo esse processo durou dois anos.

Hoje a senhora está curada?

– Sei que não tenho a doença e estou liberada pela equipe médica, mas preciso manter os exames anuais em dia, sob controle.

Quais os sentimentos que tem ao saber que venceu a doença?

– Tenho sentimento de gratidão com a vida, com a minha família, incluindo minha avó Lourdes.

Onde conseguiu forças para enfrentar todo esse processo?

– Através dos meus sonhos. Eu sempre tive muitos sonhos, e ainda os tenho. Sonhava com a realização das minhas viagens, de fazer trabalhos voluntários, estar com minha família e de ser uma profissional reconhecida pelo meu trabalho. Já conquistei muitos sonhos e continuo sonhando com outros.

Você tem alguma religião?

– Eu acredito em Deus, na espiritualidade, na energia e na força da natureza.

O fato de ter uma fé ajuda em situações como essa?

– Sim. Acho importante ter algo ou religião para se apoiar.

O que mudou em sua vida depois de ter tido o câncer?

– Sou uma pessoa mais paciente e atenta à escuta do outro. Acredito que o tempo dedicado a quem amamos é único e precioso. Que” hoje” é o meu melhor presente. Eu vivo no aqui, agora. Não posso deixar nada por dizer. O amanhã é um dia que não existe. Preciso dizer às pessoas, hoje, o quanto elas são importantes para mim.

Você passou a dar menos importância a determinas situações da vida? Fale sobre isso

– Não me preocupo em agradar a todos, mas se eu conseguir fazer a diferença na vida de uma pessoa, já valeu. Não procuro saber o que falam de mim.  Cada dia, busco melhorar com aquilo que comprometi a fazer. Evito discussões, polêmicas sobre qualquer assunto. A minha vida é leve.

Quando decidiu criar uma rede de apoio a mulheres com câncer de mama?

– Fui educada com exemplos dos meus pais que, desde pequena, levavam eu e meus irmãos para visitar abrigos de idosos, creches com crianças que eram abandonadas. Nessas visitas, nós entregávamos bolo, biscoito, maçã e queijo para os idosos. Morava numa cidade que tinha muita inundação quando chovia. Acordava à noite e não encontrava meus pais. Tinha certeza que eles já estavam na rua, na igreja, nos grupos escolares, ajudando os desabrigados. E assim continuamos…

O que vem a ser essa rede de apoio?

– O Pérolas de Minas surgiu como um grupo para troca de experiência de mulheres em tratamento do câncer de mama. Hoje, somos uma associação.

Que tipo de apoio esta associação oferece às mulheres com câncer?

– Nosso trabalho é muito amplo. Oferecemos informações, a partir da nossa vivência com a doença, entregamos o kit solidário, contendo esmalte, batom e lenços, realizamos reuniões com as integrantes (neste tempo de pandemia, não tivemos eventos presenciais), e fazemos palestras em empresas e universidades, bem como visitas solidárias em hospitais. Temos médicos parceiros que nos ajudam no esclarecimento de dúvidas das integrantes.

Distribuímos também a “Pulseira Solidária”, que é um símbolo de força para que a mulher não desanime durante a caminhada do tratamento. Quando uma “Pérola” precisa de algum medicamento, nos cotizamos para ajudar na compra e também quando precisam de uma refeição de melhor qualidade e reforçada. No mês de outubro, fazemos um grande encontro de celebração da vida, onde à alegria impera. E temos a honra de ter o cantor Flávio Venturini, como padrinho.

A associação oferece apoio a mulheres com outros tipos de tumores?

– Não, não atendemos outras patologias. Falamos da nossa experiência pessoal com o câncer de mama.

Onde funciona e como sobrevive a sua ong?

– A Associação não tem uma sede, no momento. Estamos trabalhando para conseguir uma sala para receber nossas integrantes e quem quiser conhecer o nosso trabalho. Por enquanto, ela é itinerante em duas casas. Nós sobrevivemos através de doações de empresas, pessoas físicas e das próprias integrantes para o custeio das despesas.

Como a mulher com câncer de mama pode participar da ong?

– Ela pode nos encontrar em nossas redes sociais: Instagram:@PérolasMG, site: perolasmg.com.br e Facebook: Pérolas de Minas

Como fazer para trabalhar de forma voluntária na associação.

– Nosso objetivo é ter voluntárias dentro do próprio grupo. Cada mulher, que de alguma forma foi acolhida pelo Pérolas, torne-se uma multiplicadora desta ação.

Qual mensagem a senhora pode deixar para mulheres que estão em tratamento do câncer de mama?

– Posso dizer que haverá momentos difíceis, mas não se entreguem a eles. Tudo isto vai passar e vocês vencerão. Sigam firme! A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda mamografia à partir dos 40 anos, anualmente. Assim, não deixem o tempo passar, procurem o mastologista e o ginecologista regularmente.

 

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