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A Medicina tem o vestibular mais difícil do mercado e jovens médicos lidam com uma realidade exaustiva de muito trabalho

Dra. Gesika Amorim: “é compreensível que a classe médica seja a mais atingida por estresse, ansiedade, depressão e, por consequência extrema, o suicídio”

A Medicina é uma profissão muito procurada pelos jovens estudantes e a mais concorrida nos vestibulares do país. Entretanto, para chegar lá existe um árduo caminho a percorrer. Para a formação médica são necessários disciplina, motivação, persistência, resiliência e muito amor pela profissão para poder atravessar todas as etapas. Isso significa passar por toda a preparação acadêmica durante anos de estudos, absorvendo informações e técnicas das áreas correspondentes, além da alfabetização médica específica, tempos de residência para adquirir experiência prática e inúmeros cursos de especialização e reciclagem durante a vida, sacrificando não apenas parte da juventude, mas toda a vida familiar, social e afetiva ao longo dos anos.

Segundo a Dra. Gesika Amorim, especialista em Saúde Mental e Neurodesenvolvimento e Mestre em Educação Médica, “precisamos levar em consideração que a faculdade de medicina tem o vestibular mais difícil do mercado, além do curso mais difícil com um sacrificante horário integral.  O aluno estuda o dia inteiro durante seis anos. Depois de formado, dependendo da sua especialização, são mais seis anos de árduo estudo no caso de sub-especializações, depois você estuda mais um ou dois anos. Ou seja, você estuda em torno de 20 anos, tendo que fazer plantões, responder e ser chefiado por administradores hospitalares que, muitas vezes, não têm nenhum conhecimento médico, não fizeram nem um ano de residência médica, para ser apenas mais uma roda nessa engrenagem. Você vai trabalhar exaustivamente, vai cumprir as suas horas, vai ser mal remunerado e no final você acaba completamente desiludido com a carreira médica”. E ao chegar no momento da atuação médica, de fato, o novato tem que dar conta de todas as demandas, que são variadas e simultâneas.

Esse breve perfil, destaca a médica, que é também pediatra, já nos mostra a dura natureza da profissão que, normalmente, vai levar ao esgotamento físico e psíquico dos profissionais. É compreensível, compreensível, que a classe médica seja a mais atingida por estresse, ansiedade e pela depressão e, por consequência extrema, o suicídio.

Sob pressãoNos Estados Unidos, por exemplo, em média, um médico comete suicídio por dia, uma taxa duas vezes maior do que a da população em geral. Não raro são os casos de uso e dependência de álcool e drogas, como paliativo para aliviar as tensões em razão de uma vivência diária com cargas horárias pesadas, enormes responsabilidades, exposição à dor, ao sofrimento e à morte. A carga de frustração é também enorme, gerada pela impotência diante da morte, seja por erro humano, falha do sistema ou pela causa natural do trauma ou da doença.

Para a Dra. Gesika Amorim, “O aumento de incidência de suicídio, transtornos depressivos e de abandono da carreira médica têm como causa, entre outros fatores, o fato de não haver um retorno de acordo com tudo o que o médico investiu em tempo e em dinheiro. É uma carreira muito cara e que demanda muito tempo de estudo e, depois de formado, a carga horária acaba sendo exaustiva. No final das contas, se não tiver um compromisso maior que tudo na sua vida, um propósito fundamental e muito amor, não compensa”.

“Um fator levantado trata-se do próprio sistema como um obstáculo no exercício da profissão”, analisa. Segundo ela, “a máquina burocrática – dirigida por duvidosos ‘especialistas’, que tomam decisões pautadas por questões políticas ou econômicas, acabam desbancando a própria ética médica e sua missão de salvar vidas. Essas amarras protocolares do sistema limitam, como em uma ditadura, a liberdade dos médicos e pesquisadores em suas respectivas atuações”

O mais importante, acrescenta a Dra. Gessica, é que o médico reconheça que precisa de ajuda. Isto porque o profissional médico tem o defeito de postergar o seu próprio tratamento, bem como reconhecer o negacionismo que é inerente, acreditando que ele próprio, não adoece. Ele minimiza os sintomas que está sentindo em prol do trabalho, e assim, mesmo com febre, dor de cabeça, pressão alta, depressivo, até mesmo pensando em tirar a própria vida, ele vai trabalhar.  O importante que nesse momento, é que além da mudança do ambiente, do status e valorização da carreira, haja uma considerável mudança nas coordenações de clínicas e hospitais feitas por profissionais ligados à área da saúde; não apenas dos gestores, mas é necessário que tenhamos mais profissionais médicos gerenciando os hospitais e clínicas  e, sobretudo, valorizando a qualidade deste trabalho. É imprescindível que o médico olhe para dentro de si e enxergue o quão humano ele é e tenha a humildade de buscar ajuda. Somos todos humanos e passíveis de adoecer, alerta a médica.

          De acordo ainda com a Dra. Gesika Amorim, em meio aos protocolos há uma crescente desvalorização da classe, a partir da mudança do termo “médico” para “provedor”, considerado ofensivo para muitos profissionais. “Somado a isto, há a contratação de prestadores de nível médio, que são mais baratos para os sistemas de saúde, para substituir os médicos”. Segundo ela, “esses mesmos ‘especialistas’ em políticas de saúde pressionam legisladores para diminuírem a remuneração médica por considerarem custosa demais”.

Continuando, observa: se por um lado o emprego em hospitais pode limitar ainda mais o profissional, tirando a sua autonomia clínica e administrativa, na outra ponta, o setor privado deixou de ser uma escolha lucrativa. A pandemia de Covid serviu apenas para fazer reacender essa discussão, pois nunca a profissão médica foi tão exigida quanto agora nos últimos dois anos”.

Neste sentido, ela afirma que as pessoas estão deixando de fazer medicina para fazer outras coisas, buscando outras alternativas, porque estão percebendo que não está havendo retorno pessoal e nem financeiro. No final das contas não está compensando o sacrifício de uma vida. É como ter diante de si um oceano de possibilidades para acabar depois morrendo na praia.

Quem é a Dra. Gesika Amorim: 

Mestre em Educação médica, com Residência Médica em Pediatria, Pós Graduada em Neurologia e Psiquiatria, com formação em Homeopatia Detox (Holanda), Especialista em Tratamento Integral do Autismo. Possui extensão em Psicofarmacologia e Neurologia Clínica em Harvard. Especialista em Neurodesenvolvimento e Saúde Mental; Homeopata, Pós Graduada em Medicina Ortomolecular – (Medicina Integrativa), dentre outros títulos.

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