Acolhimento e saúde mental: como lidar com a dor do luto perinatal

“O luto perinatal não é apenas sobre a morte do bebê, mas sobre o vínculo e os planos interrompidos. Validar essa dor é essencial para que o acolhimento aconteça de forma verdadeira”, explica psicóloga
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A perda de um bebê durante a gestação ou logo após o nascimento é uma dor que ultrapassa a ausência física. Representa o fim de sonhos, planos e expectativas, um luto muitas vezes silencioso e sem reconhecimento social. Casos recentes, como os da cantora Lexa, da apresentadora Tati Machado e da influenciadora Clara Maia, trouxeram visibilidade ao tema e abriram espaço para um debate sobre acolhimento e saúde mental.
Para a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo/Instituto Mater Online, reconhecer o luto é o primeiro passo para transformar a dor em significado.
Segundo ela, “o luto perinatal não é apenas sobre a morte do bebê, mas sobre o vínculo e os planos interrompidos. Validar essa dor é essencial para que o acolhimento aconteça de forma verdadeira”. O processo é único e não existe um prazo certo ou errado para a superação. Algumas pessoas, afirma, “vivenciam esse processo por semanas, outras por meses ou até mais tempo. Não existe prazo definido. O que importa é observar como a tristeza impacta o cotidiano. Quando há isolamento prolongado ou pensamentos de desesperança, pode ser o momento de buscar apoio especializado”.
Nesse sentido, a psicóloga lista sete atitudes que acolhem e cinco frases que devem ser evitadas ao lidar com famílias que enfrentam esse tipo de perda:
1) Ouça sem julgar – O silêncio respeitoso vale mais do que conselhos.
2) Diga “sinto muito” – Validar a dor é mais empático do que tentar explicá-la.
3) Evite comparações – Cada perda é única; não existe jeito certo de sofrer.
4) Ofereça ajuda prática – Comida pronta, tarefas domésticas e apoio logístico aliviam a sobrecarga.
5) Respeite rituais – Fotos, lembranças e o nome do bebê ajudam a ressignificar a dor.
6) Inclua o pai – Ele também vive o luto, ainda que em silêncio.
7) Acompanhe depois – O apoio é ainda mais necessário nas semanas seguintes, quando o luto se torna mais silencioso.
5 frases que ferem
1) “Foi melhor assim”
2) “Você pode tentar de novo”
3) “Pelo menos foi cedo”
4) “Deus sabe o que faz”
5) “Seja forte”
Essas frases, embora bem-intencionadas, não diminuem o sofrimento. O verdadeiro acolhimento é feito de presença, não de respostas prontas.
Apoio psicológico garantido em lei – Em vigor desde agosto, a Lei 15.139/2025 criou a Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental, que garante atendimento psicológico pelo SUS, acolhimento humanizado nas maternidades, acesso a exames que apurem a causa da perda e direito ao registro do bebê natimorto com o nome escolhido. “É um avanço importante no combate ao julgamento e à solidão enfrentada por muitas famílias”, afirma a psicóloga.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma em cada quatro gestações no mundo termina em perda. Apesar disso, o assunto ainda é tratado como tabu. Discutir o tema, observa Rafaela, “ajuda a romper tabus, validar o sofrimento das famílias e incentivar práticas de acolhimento mais empáticas e humanizadas”.