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Nova onda de covid impõe necessidade de prevenção

Dr. Carlos Starling: “essas novas subvariantes são frequentes e vão continuar aparecendo

ao longo dos próximos anos”.

A onda de novos casos de covid pelo país tem assustado a todos, e não é para menos.  As experiências de muitos, muitas delas dramáticas, com mortes de pessoas queridas e parentes com sérias sequelas, ainda são recentes e vivas na memória e no coração.

Entretanto, em entrevista ao jornalista Luiz Francisco Corrêa, do Portal Medicina e Saúde, o Dr. Carlos Starling, diretor da Sociedade Mineira de Infectologia e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que o surto será passageiro, mas a prevenção é fundamental. Starling é também infectologista dos Hospitais Vera Cruz, Life Center e Baleia em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Variante – “Nós estamos sim, numa nova fase, num novo momento de aumento de números de casos, e isso tem várias causas. A primeira, é a entrada de uma subvariante da Mícron, que é mais transmissível e que desafia o nosso sistema imunológico. Então, temos os anticorpos induzidos por vacina, ou pela infecção natural, e esses anticorpos ficam comprometidos em função da maior habilidade do ponto de vista infeccioso dessa nova variante, que é a BQ.1”, explica Starling.

Segundo o infectologista, “essas novas subvariantes são frequentes e vão continuar aparecendo ao longo dos próximos anos. Esta não é a primeira e não será a última sub variante que vai nos trazer problemas. Então, o primeiro ponto é esse. O segundo, é que as pessoas relaxaram muito relação às medidas de controle. As aglomerações se tornaram
basicamente comuns. O abandono do uso de máscaras nessas condições também claramente favorece a transmissão de qualquer vírus respiratório, entre eles a Sarcov dois”.

Importância da vacinação – Outro ponto importante é que as vacinas induzem uma imunidade que dura aproximadamente quatro, cinco, seis meses. “Então, boa parte das pessoas que já que se vacinaram, em março desse ano, já estão novamente desprotegidas ou com o nível de proteção muito menor. Isso faz com que o vírus encontre um território livre para difundir-se, para infectar as pessoas. Esse é um ponto crucial”, destaca o infectologista. A queda de imunidade, aglomerações e abandono de medidas de barreira e uma nova variante mais transmissível fazem, assim, que esses números tendam a aumentar pelo menos nas próximas semanas. “Foi isso que nós observamos em outros países e que, agora, ocorre por aqui.  Essa tendência de maior número de casos deve perdurar por pelo menos de oito a doze semanas”, ressalta. No entanto, acrescenta, “nós não podemos dizer que isso vai ter reflexo na mortalidade, uma vez que pelo menos algum nível de resposta ao vírus nós temos, a partir do contato prévio com as vacinas ou com o próprio vírus, o que pode ter reflexo na proteção contra as formas graves da doença”. Outro aspecto é que boa parte das pessoas ainda não tomou nem a primeira, nem a segunda dose de reforço da vacinação, mesmo com a vacina direcionada para a cepa de primeira linhagem do vírus, que confere proteção. Então, é importante que quem não tomou a vacinação, o primeiro e o segundo reforço, que faça o mais breve possível, orienta o médico.

De acordo com o Dr. Starling, outro aspecto também preocupante é a baixa cobertura vacinal em crianças, população altamente vulnerável e que participa do contexto epidemiológico da doença na comunidade. “Infectando crianças, essas infectam as pessoas, os seus colegas de escola e as pessoas em casa. Então esse é um ponto importantíssimo”.

“Nossa expectativa é de que o número de óbitos não aumente na mesma proporção que vimos acontecer anteriormente, com a variante gama, em 2021, o que não deve ocorrer”, acrescenta.  “Como já sabemos, os grupos mais afetados são claramente as pessoas mais vulneráveis, que nós já conhecemos desde o princípio da pandemia, pessoas acima de 60 anos, imunossuprimidos, pessoas que em tratamento com uso de corticoides ou quimioterápicos. Também obesos mórbidos e crianças com menos de cinco anos de idade”. Portanto, “temos que fazer o que já sabemos: evitar aglomerações, usar máscaras, principalmente, procurar colocar a vacinação em dia e vacinar as crianças, na medida do possível, bem como manter o distanciamento social e a higiene das mãos. Esses são princípios básicos no controle do Sarcov dois, assim como de outras infecções respiratórias”, alerta.

Sintomas – Conforme o infectologista Starling explica, os sintomas não variam muito. Geralmente, são febre nos primeiros dias, entre 37 e 38 graus, sendo que 38 graus não é uma febre muito alta, associada a mal-estar, dor no corpo e dor de cabeça, dor de garganta. Além disso, perda de olfato e paladar também pode acontecer, sintomas estes muito semelhantes aos verificados no princípio da pandemia

Covid duas vezes – Starling alerta quanto ao fato de alguém for contaminado novamente. Segundo ele, isto aumenta o risco de complicações e de prolongamento dos sintomas. “Então não é bom ter covid, mesmo leve. Porque mesmo tendo as formas leves, elas podem gerar síndrome pós-covid, que são sequelas que podem durar por mais tempo e algumas podem ser, inclusive, irreversíveis”. No caso das crianças, ele fala ter visto muitos relatos de convulsões. Nos adultos, de quadros neurológicos, depressão, miocardite, pericardite. Entre outros sintomas possíveis. Portanto, é uma doença com caráter imprevisível, tanto do ponto de vista epidemiológico, quanto do ponto de vista clínico. Então, quanto mais vezes a pessoa tem covid, maior é a chance de complicações. “Nesse sentido, em hipótese alguma, definitivamente, ter covid não é bom. É fundamental que nós evitemos nos expormos a esse vírus”, enfatiza.

Diante dessa grave realidade, o Dr. Carlos Starling destaca um lado positivo: já existem vacinas bivalentes, ou seja, adaptadas para a Omicron. Essas vacinas estão sendo utilizadas na Europa e nos Estados Unidos, com livre acesso. “E nós esperamos que muito em breve elas já estejam aqui, para nossa população também”, comenta.

Outro ponto favorável é a disponibilidade já de medicamentos que são de fato efetivos nas fases iniciais da doença e nas fases mais avançadas.  Portanto, nós temos pelo menos três antivirais já disponíveis, sendo que um deles já está sendo disponibilizado pelo SUS, o Paxlovide, que é a droga da Pfizer. Este medicamento foi adquirido pelo Ministério da Saúde, mas, mesmo sendo uma quantidade pequena, já está sendo distribuída para as secretarias estaduais de saúde, que devem nas próximas semanas já colocar algum critério para distribuição. “Trata-se de um momento preocupante sim, mas nós temos todas as condições para enfrentar esse novo momento de uma forma bem menos dramática do que enfrentamos no ano passado”, conclui.

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