Em FocoÚltimas Matérias

Ação e Reação no uso da voz profissional

O fonoaudiólogo Adriano Neves: “comunicar não é apenas emitir um som vocal”

Apesar da grande virtualização da comunicação no mundo atual, a comunicação verbal mantém relevante grau de importância. Nada substitui o falar olhando nos olhos do interlocutor. Comunicar não é apenas emitir um som vocal. A comunicação é repleta de nuances não captadas em textos midiáticos geralmente não bem elaborados e cada vez mais abreviados.

A comunicação verbal utiliza voz, fala, olhar, gestos, expressão facial, técnica vocal, movimentos corporais e inclui o “ouvir” voltado para uma escuta ativa, ou seja, não se trata de ouvir passivamente, mas ouvir de forma que se consiga moldar o conteúdo das falas subsequentes. Portanto, a lei da “Ação e reação”, também aqui, se aplica!

Em se tratando de Profissionais da Voz, estabelecem-se duas frentes de análise diante do supracitado: O uso da voz sob o ponto de vista da saúde ocupacional e o uso da voz sob o ponto de vista profissional (Oratória).

No quesito ocupacional, o falante, na ainda necessária comunicação presencial, em sua completude acima descrito no que se refere ao “expressar e ouvir”, deve atentar-se à sua reação à fala do outro. A atenção deve ser cuidadosa, de modo que sua reação não venha a lhe ser patológica. Por exemplo, um cliente insatisfeito que verbaliza palavras carregadas de conteúdos raivosos, inconformados e repletos de outros sentimentos ditos “negativos” pode induzir o profissional que o ouve a ter reações similares. Essas reações negativas contidas nas palavras impactarão no discurso, resultando em técnica vocal inadequada, tais como intensidade vocal muito elevada e tensão excessiva da musculatura orofacial ao falar, comprometendo, desse modo a saúde da voz.

Tais “técnicas” podem sobrecarregar a musculatura das pregas vocais, desencadeando reações indesejadas nas mesmas (surgimento de nódulos vocais e fendas). Portanto, é importante que o Profissional da Voz, da mesma forma que ele possivelmente usa um vestuário padrão para trabalhar (por exemplo, o uniforme), ele deve aprender a usar um “uniforme vocal” na intenção de autoproteção. Esse “uniforme” é adquirido por meio de treinamento de voz que inclui: postura corporal, relaxamento ao falar, coordenação da respiração com a fala, adequação de tom/intensidade/entonação, articulação labial, velocidade de fala, dentre outros. Uma empresa que investe nesse profissional, por meio de treinamentos de voz, certamente prevenirá perdas financeiras futuras advindas de gastos com absenteísmo, saúde e, possivelmente, advindas, também, de custos com passivos trabalhistas.

No quesito profissional (Oratória), o falante, na comunicação presencial, também em sua completude acima descrito no “expressar e ouvir”, deve atentar-se à auto-apresentação verbal, pois da mesma se depreenderá a interpretação do ouvinte que poderá ser uma representação de imagem “positiva” ou “negativa”. A boa comunicação presencial inicia-se no vestuário. Isso mesmo… no vestuário! A roupa que o falante utiliza também tem uma função de comunicar. É importante um estudo prévio do público para que o falante adeque sua vestimenta ao mesmo. Outro passo importante é “dominar” o ambiente com o olhar, na intenção de proporcionar conforto cenestésico durante a fala e até mesmo ambientar-se com o interlocutor. A postura corporal vem em seguida, demonstrando se o falante está ou não disposto ao momento da interlocução. Observa-se que até aqui não foi utilizada a voz e já houve oportunidade de comunicação (cujo conteúdo seria dificilmente transportada para um texto escrito). As primeiras palavras emitidas já irão começar a desenhar na mente do ouvinte a imagem profissional do falante e, daí por diante, milhares de variáveis que se entrecruzam começam a ocorrer costurando uma perfeita (ou não) oratória.

O tão almejado “diferencial” do profissional no mercado pode estar, também, relacionado a desenvolver um bom padrão de comunicação verbal ou, no caso das Organizações, promover tal desenvolvimento a seus colaboradores, especialmente em uma época em que as pessoas experienciam mais a comunicação virtualizada desprovida das ricas e múltiplas experiências da milenar comunicação presencial.

(*)Adriano Neves é Fonoaudiólogo (CRFa6 673MG), MBA em Audiologia, Formação em Programação Neurolinguística, Proprietário da Audio e Voz Empreendimentos, Diretor de Protocolo e Presidente da Comissão Imagem Pública Rotary Clube de BH-Mangabeiras.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo