Em FocoÚltimas Matérias

Fiocruz divulga cartilha sobre o impacto psicossocial da Pandemia Covid-19

A Fiocruz tem produzido excelentes ações e informações nesse momento de pandemia, cuja realidade pode levar a população a um quadro de ansiedade e depressão, entre outras situações. Nesse sentido, o Portal Medicina e Saúde, atento em divulgar notícias de qualidade nesse tempo difícil publica, na íntegra, a cartilha “Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid- 19”.

Ela foi elaborada pelos pesquisadores/colaboradores de Atenção Psicossocial e Saúde Mental do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) da Fiocruz: Bernardo Dolabella Melo, Daphne Rodrigues Pereira, Fernanda Serpeloni, Juliana Fernandes Kabad, Michele Kadri e Michele Souza e Souza e Ionara Vieira Moura Rabelo. Coordenação: Débora da Silva Noal e Fabiana Damásio. Coordenador do CEPEDES: Carlos Machado de Freitas. Projeto Gráfico: Adriana Marinho.

Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19

Fonte: Fiocruz Notícias

Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Os fatores que influenciam o impacto psicossocial estão relacionados a magnitude da epidemia e o grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra no momento. Entretanto, é importante destacar que nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados poderão ser qualificados como doenças. A maioria será classificado como reações normais diante de uma situação anormal.

A pandemia Covid-19 impacta os seres humanos de maneiras específicas, visto suas características:

  • Desconfiança no processo de gestão e coordenação dos protocolos de biossegurança;
  • Necessidade de se adaptar aos novos protocolos de biossegurança;
  • Falta de equipamentos de proteção individual em algumas estruturas sanitárias;
  • Risco de ser infectado e infectar outros;
  • Sintomas comuns de outros problemas (febre, por exemplo) podem ser confundidos com Covid-19;
  • Preocupação por seus filhos ficarem sem as referências de cuidado e trocas sociais, isto é, sem a convivência nas escolas, distanciamento da rede socioafetiva: avós, amigos, vizinhos, etc.
  • Risco de agravamento de saúde mental e física de crianças, pessoas com deficiência ou idosos que tenham sido separados de seus pais ou cuidadores devido a quarentena;
  • Alteração dos fluxos de locomoção e deslocamento social.

As reações mais frequentes incluem:

  • Medo de: Adoecer e morrer;
  • Perder as pessoas que amamos;
  • Perder os meios de subsistência ou não poder trabalhar durante o isolamento e ser demitido;
  • Ser excluído socialmente por estar associado à doença;
  • Ser separado de entes queridos e de cuidadores devido ao regime de quarentena;
  • Não receber um suporte financeiro;
  • Transmitir o vírus a outras pessoas.

É esperado também a sensação recorrente de:

  • Impotência perante os acontecimentos, irritabilidade; angústia; tristeza.

Em caso de isolamento pode-se intensificar os sentimentos de desamparo, tédio, solidão e tristeza.

Entre as reações comportamentais mais comuns estão:

  • Alterações ou distúrbios de apetite (falta de apetite ou apetite em excesso);
  • Alterações ou distúrbios do sono (insônia, dificuldade para dormir ou sono em excesso, pesadelos recorrentes);
  • Conflitos interpessoais (com familiares, equipes de trabalho…);
  • Violência. Os profissionais de saúde precisam estar particularmente atentos ao aumento da violência doméstica e também da violência direcionada aos profissionais de saúde;
  • Pensamentos recorrentes sobre a epidemia;
  • Pensamentos recorrentes sobre a saúde da nossa família;
  • Pensamentos recorrentes relacionados a morte e ao morrer.
  • As estratégias de cuidado psíquico em situações de pandemia, recomendam:
  • Reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar;
  • Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenha usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;
  • Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente, bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia);
  • Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho (se possível em um local calmo e relaxante) e entre os turnos. Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual;
  • Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia, busque colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas;
  • Investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário)
  • Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia;
  • Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas;
  • Evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;
  • Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional;
  • Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde;
  • Reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas;
  • Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social;
  • Estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade. Caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, busque auxílio de um profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial para receber orientações específicas.

Recomendações gerais

Alguns critérios para determinar se uma reação psicossocial considerada esperada, está se tornando sintomática e precisará ser encaminhada para profissionais são:

  • Sintomas persistentes;
  • Sofrimento intenso;
  • Complicações associadas (por exemplo, conduta suicida);
  • Comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano;
  • Dificuldades profundas na vida familiar, social ou no trabalho;
  • Risco de complicações, em especial o suicídio;
  • Problemas coexistentes como alcoolismo ou outras dependências;
  • Depressão maior, psicose e transtorno por estresse pós-traumático são quadros graves que requerem atenção especializada. Os transtornos psíquicos imediatos mais frequentes são os episódios depressivos e as reações de estresse agudo de tipo transitório. O risco de surgimento destes transtornos aumenta de acordo com as características das perdas e outros fatores de vulnerabilidade.

Entre os efeitos tardios mais recorrentes estão:

  • Luto patológico;
  • Depressão;
  • Transtornos de adaptação;
  • Manifestações de estresse pós-traumático;
  • Abuso do álcool ou outras substâncias que causam dependência e transtornos psicossomáticos.

Também os padrões de sofrimento prolongado se manifestam como tristeza, medo generalizado e ansiedade expressos corporalmente, sintomas que podem vir a desencadear uma patologia a médio ou longo prazo, caso não seja realizada uma intervenção qualificada.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo